Procuram-se Homens (2)
Masculinidade (manliness) é o título da obra de Harvey Mansfield, polêmico professor de Harvard, cuja entrevista foi publicada na Folha de São Paulo em 30 de julho de 2006 (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3007200607.htm) e republicada pelo boletim de uma Igreja Presbiteriana em 27 de fevereiro de 2011, em uma página chamada “Alma Masculina”. Nada que devesse nos chamar atenção, afinal tudo parece em seu lugar. O conservadorismo de direita de Mansfield e a acriticidade dos evangélicos que corrobora com o pragmatismo comum de nossos dias, são detalhes de uma realidade tão mais ampla que fatos assim passam-nos despercebidos. Mas, por outro lado, esse detalhe talvez nos sirva de pretexto para revisitar essa Alma Masculina que anda vagando a procura de si mesma.
Concordo com Mansfield quando ele afirma que a sociedade (ocidental, é claro) está em busca de um resgate da masculinidade. Concordo quando afirma que o feminismo contribuiu para a perda de referenciais, e que nós homens não sabemos mais o que é ser homem. Concordo com ele também, quando diz que a nossa sociedade tem se tornado uma sociedade “neutral gender” (a idéia de “comum de dois gêneros” não traduz plenamente a idéia na entrevista). Contudo, a concordância termina por aí. É difícil concordar com suas proposições e especialmente seus pressupostos. Dono de polêmicas asseverações como a idéia de que a mulher pode evitar o estupro através de trajes mais modestos e que o homem é superior à mulher em questões intelectuais e acadêmicas, Mansfield acaba se tornando menos útil ao debate sobre as questões de gênero do que poderia ser.
Não é possível concordar com ele quando confunde sensibilidade com a feminilidade. Trata-se de um erro crasso que cria estereótipos. É por meio desse raciocínio que submissão tornou-se fraqueza ou inferioridade, que ternura passou a ser uma virtude feminina e qualidade indesejável no homem, que seriedade e bom humor foram divorciados e responsabilidade se tornou sinônimo de preocupações. Estereótipos evidentes quando compara John Wayne com Marcelo Mastroianni, tomando-os como modelos de sua tese. Como se todas as mulheres fossem iguais, e todos os homens devessem ser cowboys. Sob seu argumento é esse o modelo de homens que as mulheres estão procurando, ignorando que ser homem não significa ser insensível.
Mas é quando comparamos seus argumentos com as Escrituras que tais erros soam mais estranhos ainda nos lábios, sites ou livros evangélicos. Como concordar com esse argumento quando as Escrituras nos revelam a masculinidade sensível de Jônatas (1 Sam 18-20) e a insensibilidade feminina de Jezabel (2 Re 21); a ternura masculina de João (Jo 13) e a e ausência dela em Mical (2 Sm 6); a firmeza e determinação feminina de Abigail (1 Sm 25) e a fragilidade masculina de Pedro (Lc 22). O estranho não é Mansfield não perceber isso, estranho são os evangélicos não verem esses e muitos outros exemplos bíblicos. Se os óculos feministas distorcem o entendimento da leitura bíblica, os óculos machistas não são menos equivocados. Em outras palavras, é preciso pensar em uma alternativa que não seja o modelo metrossexual das feministas e nem o retro sexual dos machistas.
O mais grave no argumento de Mansfield é que ele é evidentemente evolucionista. Uma leitura rápida de sua entrevista revela suas pressuposições. Afirmar que não é possível estabelecer o mesmo modelo de papéis de gênero que existiam antes do feminismo devido à evolução biológica e social torna sua tese incompatível com o cristianismo. Transfere o problema para as questões sociais e a esperança para uma pretensa evolução. Um cristão deve olhar para essa questão sob a perspectiva da Criação, Queda e Redenção. Nosso problema não é fruto de uma evolução mal fadada, mas fruto de uma criação afetada pela queda, cuja solução não é mais evolução, mas a cruz de Cristo, ou seja, redenção. Gênesis 3.15 e 16 é suficiente para nos ensinar essa verdade espalhada nas páginas da Bíblia. A alternativa que nos resta é voltar ao pressupostos bíblicos e pensarmos em uma masculinidade sensível e firme, terna e determinada, amável e fruto da autoridade de cristo e não do autoritarismo de nossa cultura.
Que Deus nos ajude...
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