Eles não têm nome, nem rosto. Não são invisíveis, mas não os vemos, passamos por eles como passamos por árvores, postes e cães. Embora tenham histórias, não possuem mais memórias e se possuíssem quem se importaria com isso? Histórias de fracassos, de insucessos, não viram livros, não resultam em documentários e nem são dignas de notas. Povoam calçadas, habitam esquinas tão sujas como suas roupas e vidas. Despertam asco, medo e repulsa, mas não misericórdia e nem compaixão. A maioria tem família, mas há muito foram desterrados, desalojados ou ignorados em suas enfermidades e “loucuras”. Mesmo que tenham algum significado numérico para as estatísticas acadêmicas, eles são completamente sem importância. E alguns de nós agradeceríamos se eles desaparecessem para que tivéssemos mais espaços em nossas calçadas para os nossos cães.
Os desimportantes estão aí, não apenas os miseráveis sem teto que se renderam ao crack, à prostituição e à mediocridade. Mas em certo grau, outros trabalhadores e empregados tem o mesmo tratamento. Quem eles são? Qual o seu nome? O que fazem? Não importa, simplesmente não importa. Na ânsia de sermos importantes para alguém, buscamos companhia daqueles que são considerados socialmente importantes, e ignoramos os feios, pobres e incultos. Foi assim no tempo do Grupo Escolar e Ginásio para aqueles que são da minha geração e é assim no Ensino Médio da geração de nossos filhos. Andávamos com os importantes para que nos considerassem importantes. Transigimos princípios, vendemos nossa alma no mercado da fama somente para sermos notados. Isso porque no grupo dos populares, dos requisitados só frequentavam os importantes. O triste é perceber que tudo continua igual. Ali a nossa fome de valor é saciada. Num mundo onde ser celebridade equivale a um currículo acadêmico, e ambos valem mais que caráter e virtudes, cada vez mais se dá importância a importância fabricada por nós.
No campo pessoal e nos relacionamentos interpessoais essa verdade prevalece. Somos levados a buscar a importância que temos nos outros. É comum ver filhos tentando se sentir importantes para seus pais, mesmo que seja por meio de rebeldias, delinquências ou reprovações. Sentem-se amados pelo avesso, pela lágrima, pela ira, mas sentem que ainda possuem alguma importância. Casais também mendigam atenção, valor e importância. Qualquer coisa serve, um toque, um abraço, um beijo. Não se trata de sexo, porque é possível manter uma relação sexual sem se tocar. “Pega-se”, mas não se toca. E daí, tal quais os mendigos e moradores de rua do início de nosso texto, esmolamos importância e nos sentimos tão desimportantes quanto eles. A grande ironia é que buscamos a resposta para a pergunta errada. Não se trata de saber o que nos faz importantes? Mas, para quem somos importantes? Não se pergunte por que alguém lhe daria importância, isso é irrelevante. Pergunte-se quem, hoje, lhe dá importância independente da importância que você tenha no mundo de lá de fora. Não se julgue importante pelo que faz, provavelmente o que tenha importância para muitos não seja você, mas seu cargo. Não se julgue importante pelo patrimônio que você tem ou pelo conhecimento que conseguiu reunir, porque nós não somos o que fazemos, e nem o que temos ou conhecemos. Em algum lugar oculto no coração de alguém nós somos importantes porque somos simplesmente nós.
Não se preocupe se a leitura desse texto levou você a se sentir desimportante, você está bem acompanhado. Eles são muitos, na realidade, são a maioria. Não sabemos seus nomes e nem mesmo conhecemos com detalhes as suas histórias. Fracassaram e não converteram seu fracasso em sucesso, eles apenas passaram pela vida. Me refiro a uma enormidade de pessoas desimportantes que encontramos nas Escrituras, cujos nomes nem sequer sabemos. O cego de Jericó, a mulher hemorrágica, o cego do tanque de Betesda, o endemoniado de Gadara, o leproso samaritano, o homem da mão mirrada, a mulher encurvada, a viúva de Naim, o hidrópico na casa de Simão, a mulher apanhada em adultério, e muito mais. Todos eles sem importância nenhuma, exceto para Jesus. O próprio Jesus nos faz companhia na desimportância da vida, primeiro porque nasceu assim, sem importância alguma para aquela sociedade, em meio a uma estrebaria. E em segundo lugar, embora sua história tenha se tornado tão conhecida que se transformou no objeto da celebração desses próximos dias, aqueles que o celebram hoje, não lhe dão importância em suas vidas. E tudo é apenas festa.
Assim sugiro que você faça a pergunta correta, para quem você é importante? E aproveite enquanto procura responder a essa pergunta e faça com que alguém seja importante para você, mesmo que seja alguem que more na rua ou alguém que a rua more nele.
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