Bons tempos aqueles! A política brasileira se traduzia em duas siglas, ARENA e MDB. É, eu sei, isso lembra ditadura militar, censura e perseguição política. Mas não é isso que chamo de bom. Refiro-me a um aspecto perdido no processo de evolução (se é que tivemos) e amadurecimento (se é que o construímos) político de nossa sociedade. Naquele tempo ser Arenista ou MDBista era tradição familiar, era como torcer para time de futebol, mas também, era ideologia. Uma ideologia meio travestida de preferências e civismos é verdade, exceto nos militantes de esquerda freqüentadores dos porões, que respiravam suas ideologias. Nas ruas e esquinas, nos cafés, bares ou ambientes de trabalho, ainda que em surdina, se debatia política com paixão ideológica, por convicções quase filosóficas que olhavam para ale, de si mesmo. Não sou saudoso da ditadura, até porque era muito criança para poder avaliar competentemente aquele tempo. Mas, ao observar as atuais campanhas políticas tenho me perguntado onde andará a ideologia.
Nessa sociedade pragmática, calculista, eu diria até matemática, a ideologia é lembrança do passado. Os estudiosos irão dizer que ela caiu com o muro de Berlim e a União soviética. Caiu também, com as torres gêmeas e o Lehman Brothers. Seja como for, ela deixou de frequentar lugares importantes. Hoje percebemos a sua ausência nas escolas e magistério, nos tribunais e magistrados, inclusive nas igrejas e ministérios. Não se faz mais nada por ideal, parece que o bordão do mendigo, a personagem de Moacir Franco no programa A Praça é Nossa, tinha um que de profecia, ele dizia: “É quanto é que levo nisso”. Até nas relações afetivas devemos ser práticos, onde práticos significa desenvolver uma Análise S.W.O.T para tomar decisões pessoais. Mesmo aquelas de caráter completamente abstratas que envolvem fé e sentimentos. Onde será que a ideologia se meteu?
Uma coisa eu sei, na política ela não está. Nem mesmo os cabos eleitorais dos partidos de esquerda guardaram alguma semente “Buarquiana” de suas ideologias. Eleição é uma verdadeira feira, um bazar, um camelódromo de luxo, onde políticos falsificados são negociados como se fossem originais. É tamanha a incoerência que inimigos políticos de hoje serão parceiros comerciais de amanhã. Se você tem dificuldade de memória, anote, veja quem está contra quem, e amanhã avalie novamente. Provavelmente eles estarão negociando apoios, acordos, alianças e currais eleitorais, tudo por interesse financeiro, porque ideologia é coisa de político ultrapassado. Antes que termine, devo acrescentar que eles (os políticos) não são os únicos culpados. Culpado sou eu e você que vendemos nosso voto, nosso apoio e nossa ideologia. Alugamos, também, nossos princípios e alienamos o que poderia nos livrar desse mal, nossa consciência. Será que pelo menos diante da urna, na cabine de votação, a ideologia irá nos acompanhar? Veremos.
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1 comentários:
Pena que a grande massa que vai lá votar não se importa com ideologia, se importa com o que vão ganhar todo mês do governo. Interesse coletivo? Inexistente.
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