A poeira do deserto pairava sobre eles. Seus cabelos secos pareciam ruivos pela camada de poeira que assentava em suas cabeças. O ar seco do deserto queimava suas gargantas à medida que tentavam respirar. Os passos eram rápidos e era possível ouvir a respiração ofegante pelo esforço. Ele caminhava em silêncio, mas a multidão a seu redor conversava entusiasmada como alunos em sala de aula na ausência de seus professores. Embora falassem baixo a reunião de tantas vozes e som indecifrável era de um volume incômodo. A única coisa compreensível era o som dos passos nas pedras enquanto desciam o monte. Ele acabara de proferir um longo discurso causando perplexidade naquela multidão. Esse deveria ser o assunto de todos. Mas, antes que alcançasse o sopé do monte ele percebeu a aproximação de uma pessoa diferente.
Os cabelos desgrenhados, roupas rasgadas, bigodes cobertos, não havia dúvida, era um leproso. A multidão também notara e observava com atenção os movimentos do leproso. Pela rota que percorriam não havia dúvida que se cruzariam no sopé do monte. Os gritos e ameaças para que ele se afastasse não o intimidaram e de maneira resoluta aproximou-se. O que, em si, já era uma transgressão. Destinados à solidão de sua enfermidade os leprosos só gozavam da companhia de seus iguais. Viviam, em geral, fora dos muros da cidade e organizavam-se em colônias mais pelo instinto de sobrevivência que pelo prazer da companhia. Não deveria ser nada agradável ver nos outros o reflexo de si mesmo. Mas era assim que determinava a lei. Não eram apenas proscritos pelas leis sanitárias, mas eram igualmente marginalizados socialmente e condenados moralmente. Somente um grande pecador, como se todos nós não fossemos grandes, poderia receber tamanho juízo de Deus. Com certeza a enfermidade tinha uma explicação teológica, o Senhor pesara a mão. Por isso, eles eram imundos!
Prostrado, diante de Jesus, o leproso implorou: Se quiseres... Não ousava levantar a cabeça, e nem olhar para Jesus, mas por uma fração de segundos seus olhares se cruzaram. Então ficou evidente mais do que em qualquer outro ato a diferença que os separava e que os unia. De um lado o olhar de dor causada pelas dores não físicas da lepra, do outro o olhar de dor compartilhada e empática. De um lado o olhar de desespero que nutre a esperança mais inexplicável, do outro o olhar de amor e compaixão que vê o coração despido de suas resistências inúteis. De um lado o olhar ansioso que vê naquela hora a última de suas horas, posto que continuar vivendo daquela forma seria um castigo maior que a morte. Mas, do outro lado havia o olhar de anseio de Jesus de fazer chegar naquela vida o fim de sua angústia. Tudo em um olhar.
E então aconteceu o inesperado, a surpresa que deixaria a multidão já perplexa pela autoridade de suas palavras, mais perplexa ainda com a autoridade de seu poder. Jesus para espanto de todos, põe o dedo na ferida e as mãos em suas chagas. A carne sã se encontra com a carne podre, corroída e contaminada. As mãos puras descansaram sobre pústulas e chagas abertas em carne viva, já que a pele fora consumida pela doença e a honra pela vergonha. Contra a lei, contra a lógica, contra o bom senso, contra o recomendável, enfim, ele simplesmente põe a sua mão na lepra. Imediatamente o leproso foi curado. Curado na pele e curado na alma, curado no corpo e curada foi a sua vida.
Tomara, Jesus coloque também seu dedo em nossas feridas
Artigos Relacionados
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Amém!!!
Só Ele para curar feridas sem deixar cicatrizes! Que Ele tenha misericórdia de nós. =]
Postar um comentário