Noite chuvosa, os rostos consternados e aflitos revelam a consciência do risco. Barracos dependurados em morros e fincados em lixões aguardam o fim da chuva, como quem espera o inevitável. Ouvem-se um estrondo seguido de um barulho indescritível, e então gritos, pedidos de socorro e silêncio. O morro do Bumba desceu para a avenida levando consigo vidas desconhecidas, mas nem por isso, menos importantes. O que uma tragédia dessas pode nos ensinar? Aliás, o que a tragédia em Santa Catarina em 2008, ou em Angra dos Reis na passagem de ano de 2009 para 2010 podem nos ensinar? O que a chuva que desaba do céu todos os anos teria a nos dizer, visto que assistimos impotentes, seu derramamento impassível sobre essas populações das chamadas áreas de risco.
A primeira lição que recebemos de cima é que a natureza não mudou sua natureza. A chuva pode ser excepcional, mas ainda assim é apenas chuva. Ela já caía antes de medirmos os índices pluviométricos, e continuará caindo forte ou fraca. A natureza não mudou, nós que mudamos a paisagem. As catástrofes continuarão a acontecer. Umas provocadas pelos homens, outras ocorrerão independente de nós, mas a verdade é que a natureza continuará sendo a natureza, seja no Rio, seja no Chile ou como noticiado recentemente, na China. É bom lembrar o que disse o Apóstolo Paulo, "...sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora." (Rm 8.22)
A segunda lição é que a natureza do homem não mudou. Não é difícil encontrar culpados para uma tragédia dessas. Não como o Prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, que responsabilizou a natureza pelo desastre citando exemplos de Tsunami de 2004 e o terremoto no Chile, mas a verdade é outra. Somos todos culpados, desde a população que invade conscientemente áreas de risco para construções desautorizadas até as autoridades municipais, estaduais e federais, que apostam na omissão como quem joga na megasena, com um detalhe: joga com a vida alheia. O que dizer da distribuição de verbas de prevenção de catástrofes por parte do ministro Gedel Vieira Lima, e do descaso de uma catástrofe anunciada como afirmam os técnicos? O que dizer da má gestão do dinheiro público, recolhido pelos impostos abusivos? A natureza humana continua corrompida, como ainda fala Salomão, "o rei justo sustém a terra, mas o amigo de impostos a transtorna". (Pv.29.4)
A terceira lição é que a natureza de Deus não muda. O único ser imutável e soberano continua conduzindo a história como lhe apraz. Algumas vezes de forma compreensível, outras não. Basta-nos lembrar que as mesmas mãos que derramaram a chuva, são as mãos que se estendem em misericórdia para o povo sofrido. E isto ele faz através de mãos humanas, especialmente as mãos dos que crêem. Essas mãos, nesse momento, deveriam se estender como a mão do seu Senhor que nunca está encolhida (Is 59.1). Ao invés de culpar a Deus por tão extensa tragédia deveríamos nos lembrar o que ele nos diz, através de seu filho em uma de suas muitas parábolas, "Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu?" (Mt. 20.15)
O que fazer? Que as nossas mãos se estendam para tirar da lama os brasileiros soterrados. E que elas mesmas, sejam as mãos que na próxima eleição tirem a lama os demais brasileiros soterrados na corrupção.
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