Um filme argentino, Um goleiro brasileiro, Um rei de Israel e uma verdade universal

Há pouco mais de um mês assisti ao Filme argentino, “O Segredo dos Teus Olhos”, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Um belo filme. A trama se desenrola em torno de um crime passional desvendado pelo olhar contido em uma foto. Não vou contar o filme, é falta de educação fazê-lo, mas o fim do filme nos leva a considerar sobre as razões que temos para fazer justiça com as próprias mãos. Em uma sucessão de culpas, fraquezas humanas e paixões com ou sem controle, o filme nos induz a pensar na frágil natureza humana e nas esquinas escuras de nosso coração. Vale a pena assistir e refletir.
Há pouco mais de um mês eclodiu o caso do goleiro Bruno. Julgado e sentenciado pela mídia, investigado e processado pela polícia e justiça. Tornou-se uma ingógnita pelo não aparecimentodo corpo da ex-amante do goleiro. Trata-se de uma situação complexa até de entender, Bruno, esposa, amante desaparecida, mais uma amante aparecida, primos e amigos. Essa trama por sua vez gira em torno de um filho e o reconhecimento de paternidade. Não quero discutir as informações, nem mesmo o diagnóstico popular de psicopatia, não creio que seja o caso. Mas me interessa o nosso senso de justiça que já processou e setenciou o jogador. Não que eu entenda ser ele inocente, muito longe disso, mas me impressiona a nossa capacidade de julgar casos assim que sempre revelam os becos ocultos de um coração, seja o dele, seja o meu.
Há pouco mais de um mês me deparei com a história bíblica de Davi e Mical. Longa e confusa, cheia de idas e vindas, marcada por erros de ambos. Saul prometeu dar Merabe sua filha mais velha a Davi. Saul muda seus planos e dá Merabe a Adriel, frustrando as expectativas de Davi. Contudo, o texto de 1 Samuel 18 narra que Mical amava Davi, e assim foi dada a Davi como esposa. O verso 28 enfatisa que ela realmente o amava. O capítulo 19 do mesmo livro nos mostra como ela protege Davi da fúria de seu pai, e como ele foge da morte graças a ardilosa trama de Mical. O fim do capítulo 25 nos revela que Mical havia sido dada por Saul, após a fuga de Davi a um novo marido, um homem chamado Palti. Mical reaparece em cena no capítulo 3 de 2 Samuel, quando Davi, agora rei, ao fazer aliança com Abner exige a sua primeira esposa de volta. A cena é triste e contraditória. Triste porque ela foi literalmente retirada de seu marido que “…a acompanhou, caminhando e chorando após ela”, (2Sm 3.16). Uma época em que sentimentos eram pouco considerados. É também contraditória porque, não teria Davi ferido o preceito de Dt 24.1 a 4, ao tomar a sua mulher depois que foi desposada por outro? A verdade é que o direito real falou mais alto que o desejo de Palti, e talvez de Mical. Três capítulos à frente Davi dança diante da arca e, segundo a Escritura, Mical o despreza em seu coração. Não seria isso o resultado da ruptura do casamento anterior com Palti? Ou quem sabe a amargura de uma mulher que se vê retirada de seu relacionamento para dividir espaço no harem de seu primeiro marido que incluia: Aionã, Abgail, Maaca, Hagite, Abital, Eglá, Bate Seba, além da própria Mical e as demais anônimas mencionadas em 2 Samuel 5.13. A última referência que temos sobre Mical é que ela não teve filhos, provavelmente pelo desprezo de Davi por ela (2 Samuel 6.23). Histórias que revelam os quetos do coração humano. Vale a pena ler e refletir.
Lembrei-me agora desse fatos, ao ser questionado pelo Salmo 130.3. Texto que revela a favela do meu coração. Eu bem poderia ser um personagem do filme argentino; não há muita diferença entre os corações envolvidos no caso Bruno e o meu; seja Davi, seja Mical, não sou melhores que eles, e em minha oração pergunto:
Se observares, SENHOR, iniqüidades, quem, Senhor, subsistirá?

Postado por Unknown